domingo, 5 de maio de 2019

Por um pouco, tudo!

Dias passam e nossa rotina nos lembra dos afazeres e obrigações.
Tempo corrido, mesmo quando temos uma folguinha... Inventamos o que fazer.
Estava eu nesta roda viva, aproveitando minha folga fazendo aquela arrumação boa na casa, quando ouvi gritos de um cachorro... Olhei na varanda e ouvi uma pessoa na rua falando que havia sido atropelado.
No momento a dúvida entre parar o que estava fazendo, dentro da organização das horas do dia, ou parar tudo e "sacrificar" este bem tão precioso... O tempo!
Pois bem, parei... Desci do jeito que estava, desajeitada e descabelada, fui em direção a esquina pensando apenas em fazer algo, sem saber ao certo o que.
Do outro lado da avenida estava um senhor parado ao lado do cachorro e um rapaz, com cabelos cacheados, numa moto... Atravessei, olhei rapidamente o animal e conversei com os dois sobre o que tinha acontecido.
O rapaz saiu com a moto para estacionar e o senhor não poderia ajudar mais do que já tinha ajudado, naquele momento... Era uma cadelinha e ela estava sentindo dor, por muito pouco não passaram por cima dela. Graças aquele senhor e ao rapaz ela sobreviveu.
Estávamos decidindo o que fazer... Quando sem pensar muito o rapaz voltou a pé e jogou o casaco na calçada dizendo: "vi no google que tem um veterinário a 500m daqui, vamos embrulhar a cadelinha e leva-la a pé"... Aquilo não me pareceu a melhor ideia.
Foram segundos mas, o olhar de amor daquele ser por um animal que não conhecia, de uma cidade que não era a dele, ocupando o seu "tempo" tão precioso me fez enxergar uma trajetória bem mais simples e mais agradável para a plenitude.
Dentro dos cálculos rápidos e da relação enorme de coisas que eu tinha ainda para fazer, estava a vontade de participar também deste sentimento de doação e sinceridade.
Pedi para ficarem com ela enquanto eu pegava meu carro e uma coberta, cada passo uma confrontação... Cada segundo, uma pergunta sobre do que somos feitos e para que existimos.
Voltando, o senhor já havia ido embora e vi o rapaz sentado na calçada ao lado da cadelinha, conversando com ela e a acalmando... Outro soco na minha racionalidade, na minha tese de que a humanidade está indiferente.
Nada foi pouco... Foi um presente!
Resgatamos, levamos a bichinha para o veterinário... Encontramos a dona dela e ela voltou para casa no dia seguinte, após os exames... Todos felizes.
Despedi-me do rapaz e agradeci a ele pela atitude e cuidado com ela.
Dentro de mim agradeci por ter tido a oportunidade de rever o uso dos meus dias, minhas horas... Meus segundos.
Nada ficou fora do lugar e ganhei alguns amigos.
Fica a lembrança dos cachos negros, como um anjo de amor, e a esperança de que existam mais seres assim.

(Juliana Priori)



4 comentários:

  1. Juro que pensei a mesma coisa antes de ler esse texto ("sacrificar este bem tão preciso"), mas no final o resultado foi positivo.
    Gostei da história.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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